Com a crescente explosão de redes sociais, verificada nos últimos anos, a mudança de comportamento dos indivíduos e das organizações para com a mídia passou por uma (esperada) mudança. Em muitos casos, as relações, tanto entre amigos quanto entre vendedor e cliente, tiveram que ser readaptadas e estruturadas para o uso das tecnologias digitais. Através da internet surgiram novas formas de comunicação, capazes de mudar essa dinâmica, obrigando empresas a se reinventarem e atrair públicos interessados em programas originalmente destinados ao entretenimento. As ações de propaganda e marketing através dos meios tradicionais perderam espaço, gerando novas formas de comunicação mercadológica.

Isso é claramente visto em ações de mídia no Facebook e Twitter, para citar dois casos, líderes em usuários nas redes sociais. Constituídos principalmente pelo público jovem, antenado a todas as novidades, esses sites fazem parte do modo atual de comunicação, marcada pela criatividade e capacidade de prender a atenção dos usuários multimídias. Como se destacar em um universo de 140 caracteres, por exemplo, é o que diferencia as empresas ligadas aos novos consumidores das que não ingressaram nesse novo mercado tecnológico. Outra dificuldade é a de construir marcas capazes de atrair “fãs” em seu perfil, fazendo com que o internauta se interesse em conhecer um pouco mais sobre determinado produto.

Consequentemente, empresas que já utilizam essas novas ferramentas conseguem aliar sua marca ao crescimento tecnológico, fato muito apreciado entre usuários, que se sentem interligados ao processo de criação e venda dos produtos e, assim, parte ativa do mundo globalizado. Algumas, inclusive, criam projetos de merchandising ao possibilitar votações para elaborar ou definir o próximo lançamento, estabelecendo vínculos com o cliente antes mesmo do produto ser lançado. O principal desafio para os especialistas é fazer com que o consumo publicitário se torne uma experiência que mobilize o usuário, levando-o a dedicar parte de seu tempo na interação e colaborar na construção de produtos.

Faceta comercial

De certo modo, essa nova forma de comunicar, surgida a partir das redes sociais, possibilita que o relacionamento entre as partes de criação e consumo final se torne mais aberta, com a opinião ativa do público. Isso faz com que a produção seja acompanhada e recebida com muito mais interesse, devido à maneira espontânea com que as pessoas interagem nesses ambientes virtuais, até mesmo divulgando a marca para conhecidos, sem ao menos ter consciência da propaganda, somente por afinidade ou gosto. Para os objetivos empresariais, isso é o ideal, de forma que o consumidor incorpora o produto e até trabalha para organizações empresariais na expectativa de sentir-se incluído no mundo em que vive.

Nesse sentido, também o jornalismo sofre uma mudança significativa. Contrariando as velhas fórmulas de se chamar a atenção do leitor recorrendo a chamadas e leads, agora o impacto está visivelmente restrito aos títulos (o que antes era mais um componente), já que o espaço para transmitir a notícia também diminui nas redes sociais. Convidar o leitor a se interessar por notícias, ao invés de perder horas do seu dia navegando em atualizações de amigos e publicando posts para que outros gostem de suas ideias ainda é uma tarefa difícil. Historicamente envolvido no mito da missão de informar, com forte conotação social, o jornalismo assume, assim, sua faceta mais comercial, de conquista do consumidor.

Novas possibilidades

Essa mudança que ocorreu e ainda perdura traz novos rumos para a comunicação. Descobrir o segredo para falar, divulgar, atrair e fidelizar seguidores em um lugar tão diverso, com programas de multimídia e acesso aberto, ainda é uma tarefa difícil. Fica clara a importância de se infiltrar nesses meios, adequando-se às novas exigências, reposicionando-se como comunicador. A própria formação desses profissionais deve estar mais aberta aos novos tempos. De um lado, há necessidade de avanço em conhecimentos tecnológicos. De outro, é fundamental o investimento no conhecimento teórico ligado às ciências sociais e humanas como forma de compreender o mundo e poder ser agente de transformação.

Do mesmo modo, não há como prever até quando as redes sociais de hoje irão ter sucesso ou quando serão substituídas por outras que exijam técnicas diferentes de aproximação. O que se nota é que o mundo comunicacional está em constante mudança e o profissional precisa estar preparado para se adequar às transformações permanentes, se possível transformando as novidades em benefícios. Num mundo de obsolescência forçada, em breve surgirão novas redes a hegemonizarem e inovações tecnológicas substitutas que gerem a aparência de constante mutação, forçando novos consumos, novas possibilidades e a manutenção do sistema. Cabe ao comunicador e cidadão se adaptar a essas novidades, visando não só ao seu próprio benefício, mas a uma integração entre seus interesses e a evolução comunicacional.

(Por: Valério Cruz Brittos e Marta Reckziegel são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduanda em Comunicação Social – Jornalismo na mesma instituição / observatoriodaimprensa.com.br)