Era uma vez um garoto que, apesar de nunca ter trabalhado, tinha ideias geniais e uma vontade muito grande de colocá-las em prática. Jones não imaginava que, para abrir seu próprio negócio, ele precisaria viver uma aventura cheia de desafios e lutar contra um impiedoso vilão: o Governo.
Como todo principiante, ele compartilha sua ideia com amigos e familiares e é estimulado a dar vida a esse projeto. Essa ideia parece uma “doença contagiosa” e toma conta do garoto. Ele não fala em outra coisa, não pensa em outra coisa. Só tem olhos para seu projeto e não para de imaginar em como será feliz quando ele se tornar realidade. Até mesmo a namorada não aguenta mais ouvi-lo falar sobre a tal aventura e de suas expectativas.
Em meio a todo entusiasmo e preparativos, surge o primeiro desafio: criar um bom nome. Uma tarefa difícil, principalmente quando o negócio precisa ter presença na internet – todo nome bacana que ele pensa em criar já existe e, quando não existe, alguém já registrou.
Nome escolhido, agora é preciso um logotipo. Será mesmo? Ainda não tem pesquisa de mercado, não estudou o consumidor, a concorrência e nem a viabilidade do negócio. Mesmo assim, ele vai em frente com seu projeto. “É uma ideia inovadora, não tem como dar errado”, pensa Jones.
Pois é assim mesmo que a maioria começa um negócio! Apenas no sentimento, na raça, na esperança de que tudo vai dar certo. E é aí que a verdadeira aventura começa! O empreendedor vai entrar em uma floresta escura e sem fim, mas com promessa de um pote de ouro no final.
Até então, é dia e os passarinhos cantam. O logotipo ficou lindo, o texto de missão, visão e valores é mágico – como manda o figurino – e o plano de negócios de quatro páginas está pronto. O sentimento de confiança continua: tem algo falando que esta é a oportunidade da sua vida, um oceano azul.
Mas, de repente, começa a anoitecer. Pediram um tal de ‘fiador’ para o aluguel de uma sala, além de um comprovante de renda. Mas que renda? Ainda não tem um negócio, muito menos renda! E o preço do aluguel abocanhou a poupança de Jones. Se ele não começar a vender logo, além de escurecer, vai começar uma terrível chuva. O jovem empreendedor começa a ficar assuntado, afinal, a linda e encantadora floresta começa a revelar um lado obscuro, frio e burocrático.
Após a noite mal dormida, em que as primeiras preocupações virem à tona, amanhece um lindo dia de sol. Chegou a hora de comprar os móveis e equipamentos para mobiliar a loja. Este é um momento mágico, seria quase “o grande final de um filme”, no qual Jones beija a mocinha. Mas é aí que o tiro sai pela culatra e deixa nosso herói desacordado por dias, quase em coma. Ele gasta mais do que deve. Compra decoração, uma mesa mais bonita, um computador mais potente, um quadro para parede onde tinha um horizonte azul pintado…
Depois do baque, levanta atordoado e se dá conta de que as compras estão parceladas no cartão e a data de vencimento da fatura ainda está longe. Os móveis chegam, a internet é instalada, que dia mágico! Fica arrumando sua casa na floresta até altas horas e, depois, reúne os amigos em volta da fogueira para comemorar! “Amanhã tudo começa e minha vida vai mudar! Fiz o que precisava fazer”, pensa o empreendedor Jones.
Na manhã seguinte, nosso aventureiro acorda animado e vai à luta. Mas logo cedo descobre que precisaria ter um eterno aliado: o contador (embora ele só traga péssimas notícias). Lá se foi mais dinheiro para um tal contrato social e para os primeiros impostos…
Como se trata de um negócio novo e pequeno, Jones contrata dois funcionários. Em seguida, recebe da contabilidade mais impostos para pagar. As contas se acumulam antes mesmo de realizar sua primeira venda. Já ansioso com a situação, Jones senta-se em sua mesa e pensa que ainda não chegaram as contas de água, luz, IPTU e por aí vai…
Quando registra sua primeira grande venda, felicidade total? Não! Percebe que deve pagar mais impostos, emitir uma nota fiscal pelo que vendeu. Isso, sem contar o valor que já havia pago por todos os produtos que estavam em sua loja. A chuva nesse momento é acompanhada de raios e trovões e está quase ininterrupta. Já desesperado, o empreendedor Jones lamenta: “Eu não tinha pensado em todos esses valores quando coloquei preço no meu produto. Como vai ser agora? Meu lucro, onde vai ficar? Como repassar esses valores para os meus clientes? Mas vou assim mesmo! Já cheguei até aqui, vamos em frente!”.
Deste dia em diante, raramente fez sol na floresta.
Infelizmente esse “conto” é mais comum do que se imagina. Empreender no Brasil transforma os empreendedores em aventureiros.
Mas de uma coisa eu tenho a certeza: todos são heróis! E os que permanecem no mercado são, ainda, mais, pois enfrentam os desafios e os monstros da floresta diariamente, sem exceção.
Fonte: Administradores.com.br | Por Fred Rocha, pioneiro ao implantar e investir no desenvolvimento do e-commerce no país em 1998 já tendo participado da efetivação de mais de 200 lojas virtuais. Fred é Diretor da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico Estudou Economia pela Universidade Estadual de Montes Claros – MG. Graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Ribeirão Preto – SP. Possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas- Belo Horizonte MG. Especialista em Varejo para redes e centrais de negócios.
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