Se 2014 foi um ano duro e cheio de desafios para o Brasil, os prognósticos para 2015 não são dos melhores. Basta navegar pela web, visitar os sites de economia, pesquisar tendências ou ler os diários, para ter contato com esta cruel realidade.

A gestão corporativa nos próximos meses deve enfrentar ventos mais fortes do que os sentidos na última grande crise mundial de 2008. Infelizmente não nos parece que apenas uma “marola” está por vir. Os sinais de estagnação econômica são claros e as indicações do governos e dos mercados apontam para um ambiente recessivo.

Existem duas formas de lidarmos com este cenário: uma delas é a tradicional – pé no freio, corte de despesas, estagnação de projetos, e tudo o mais que já ouvimos em outras crises. A segunda forma, e a mais interessante, é mover as pessoas e equipes para um foco profundo no aprendizado e na descoberta de oportunidades.

Esta segunda opção, claro, não é a mais utilizada pelas empresas e muitos CEO’s e executivos abstem-se de usá-la com o argumento de garantir um ambiente mais seguro dentro de suas organizações. Ora, claro que isto não pode ser encarado como uma razão efetiva. Basta analisarmos os ciclos das crises ao longo das últimas décadas para percebermos que em todos eles houveram derrotados, destruídos e muitos vencedores.

Se olharmos com cuidado para a última grande crise financeira global de 2008, o que estou afirmando fica claro. No meio de centenas de agentes financeiros e bancos quebrados, alguns, os que usaram a forma número dois –  a das oportunidades – fizeram de seus negócios algo muito promissor.  Compraram concorrentes, participaram de fusões, usaram a estratégia de entender, aprender e agir dentro do furacão. De modo rápido, seguro e preciso.

Mas este tipo de visão, infelizmente, não é para qualquer um, e eu não estou aqui pregando que toda gestão deva ser focada em alto risco e extremamente arrojada. É óbvio que conter os custos, reprimir investimentos, enxugar processos sempre é a forma mais simples e segura de garantir os recursos dos invetidores. Na mesma proporção desta segurança está o indicador de retomada. Quanto mais presas as amarras da gestão “segura” mais lenta é a retomada dos negócios, quando a crise sinaliza melhorias. Um investimento cortado, um projeto adiado, terão seus reflexos em um futuro breve.

Os CEO’s que conseguem aprender e ter a sensibilidade necessária para manter estas ações dentro de um patamar razoável de administração do risco, são aqueles que saem da turbulência fortalecidos e com forte tendência de sucumbir seus competidores. Trata-se de um jogo e esse jogo é jogado dentro de cada modelo mental e também de cada modelo de gestão,  fruto da cultura de cada empresa.

Portanto, os gestores que estarão à frente, tão logo a atual crise seja atenuada, são aqueles que, com certeza, estudaram a possibilidade da chegada dela há anos atrás. Crises chegam, fazem estragos, geram oportunidades e apenas aguardam novas crises surgirem. Aprender com cada momento, bom ou ruim, é participar de uma gestão sustentável.

Por Renato Ricci é Diretor Executivo do Creative Learning Institute – Exame.abril.com.br

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